Quem eu sou?

Como não tenho o dom de ler pensamentos, me preocupo somente em ser amigo e não saber quem é inimigo. Pois assim, consigo apertar a mão de quem me odeia e ajudar a quem não faria por mim o mesmo.
Quem não lê, não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo.


segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O BRASIL E A COOPERAÇÃO SUL-SUL NO PÓS-GUERRA FRIA

O BRASIL E A COOPERAÇÃO SUL-SUL NO PÓS-GUERRA FRIA
Políticas externas comparadas, relações bilaterais e multilaterais com as "potências emergentes"
Paulo G. Fagundes Visentini
A pesquisa enfatiza as relações do Brasil com novos espaços internacionais, as relações Sul-Sul com as chamadas "potências emergentes", tendo como pano de fundo o impacto da integração sul-americana (ou seja, a posição do Brasil como liderança regional) para estas iniciativas e uma reflexão sobre o caráter da atual política externa (tentando responder se se trata de inovação ou da retomada de propostas anteriores dentro de um novo contexto).
As relações do Brasil com os quatro grandes do mundo em desenvolvimento (China, Rússia, Índia, e África do Sul), cujo conjunto é conhecido jornalisticamente como BRICS, representam uma grave lacuna bibliográfica. A pesquisa busca reconstituir empiricamente as relações bilaterais, o papel do Brasil para a estratégia de cada um destes países e comparar as respectivas políticas externas, nos marcos das respostas aos desafios da globalização e do sistema internacional pós-Guerra Fria.
A análise das relações do Brasil com países aspirantes a uma posição de proeminência na ordem mundial, como Rússia, China, Índia e África do Sul, tem implicações teóricas importantes. A globalização gerou espaços para a projeção de potências regionais, líderes de blocos econômicos, o que contribui para reforçar a possibilidade de formação de um sistema mundial multipolar, em lugar de uma neohegemonia norte-americana. Os casos da Rússia e da China diferenciam-se dos outros dois, pois se tratam de países que, apesar da dissolução da URSS e das reformas de mercado na China, guardam elementos estruturais originados sob regimes socialistas. São potências mundiais, embora uma declinante e outra ascendente.
Como já existe uma bibliografia consolidada sobre a diplomacia da Rússia e da China (potências nucleares e membros do Conselho de Segurança da ONU), buscaremos explorar com maior profundidade os elementos comparativos em relação à África do Sul e à Índia, com os quais constituímos o G-3 ou IBAS. Neste ponto também procederemos à análise das relações multilaterais dentro do grupo. Contudo, para que tal potencialidade se realize, é necessário um maior nível de interação entre "os grandes da periferia", seja simplesmente um plano conceitual, como no caso do BRICS, seja no plano diplomático, como em relação ao G-3.
Se de um lado a Rússia se tornou um protagonista qualitativamente inferior à URSS, o país guarda elementos de poder significativos, como a presença no CS da ONU, potencial nuclearmilitar e industrial e tecnologia aero-espacial. Além disso, ela vem recuperando parcialmente sua força com o governo Putin. Por outro lado, ter deixado de ser uma das superpotências sob o sistema bipolar da Guerra Fria e perdido o caráter de bastião ideológico socialista, permitiu-lhe um novo papel internacional e novas possibilidades de alianças.
A China se encontra em posição parecida, embora evoluindo em direção oposta. Em vias de ocupar uma posição de liderança partilhada com os EUA, a China oposta na configuração de um sistema mundial multipolar, como a Rússia, e numa "parceria estratégica" com o Brasil. Seu crescente peso econômico lhe confere um elemento adicional de influência na política internacional.
Mas as possibilidades de atuação conjunta com Moscou e Beijing no plano internacional são diferentes das que podemos ter com Nova Delhi e Pretória. Há vínculos importantes e "parcerias estratégicas", mas as assimetrias também são significativas. Já a Índia e a África do Sul, que formam com o Brasil o G-3, embora atores mais modestos que os outros dois, possuem um peso internacional como líderes de processos regionais de integração como a SAARC e a SACU/SADC, comparáveis ao Mercosul/CASA no caso do Brasil. A posição como grandes democracias (embora de qualidade discutível) e um passado de economias capitalistas industrializadas por substituição de importações também são traços comuns.
Assim, o estudo das relações do Brasil com estes 4 países nos marcos Sul-Sul, se reveste de grande relevância. Mas é necessário ter em conta o desafio da ordem mundial pós-Guerra Fria, e particularmente, pós-11 de setembro. Os desafios que os membros do G-3 e, em menor medida, do BRICS, vêm enfrentando criam um espaço comum de atuação. A pesquisa buscará, por outro lado, desmistificar a crença de que se trata da retomada do "terceiromundismo", a adoção de uma diplomacia ideológica ou de um posicionamento conjunto que visa contestar a ordem mundial em seu conjunto. Como uma aliança de geometria variável que é, tem conseguido se viabilizar em contínuo rearranjos.

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